segunda-feira, 14 de março de 2011

Crasto, Mouchão e Roda apresentam os seus vinhos




O dia estava perfeito, em Gaia, para mais uma prova de vinhos. Após alguns dias de chuva e frio intenso, parece que um dia com algum sol vinha mesmo a calhar. E assim foi, pois quando cheguei ao local da prova, o novíssimo e muito badalado, Hotel Yeatman, já o sol queria descobrir.



Antes de irmos aos vinhos, saliento o local onde foi conduzida a prova. Integrado no meio das centenárias caves, ergue-se este imponente hotel, que pese embora não fira a paisagem onde se encontra integrado, pareceu-me também não sair disfarçado. A verdade é que o hotel é grande e moderno no seu exterior. No interior a coisa muda de figura, e a influência inglesa faz-se de imediato notar. Muito bonito, aliás, tudo muito bonito. Apetece entrar e usufruir.
Os quartos como provavelmente saberão, são patrocinados por produtores de vinhos e ostentam os seus nomes. Dentro de cada um deles, entramos suavemente no mundo do seu "sponsor", com alusões ao produtor e seus vinhos.

Já depois de ter passado e bisbilhotado um pouco enquanto esperava, fui então levado para o local da prova. Bem, o impacto não se podia deixar de fazer sentir. A sala de provas é absolutamente genial. Virada para a fabulosa vista do Rio Douro e da Cidade Invicta, através de um vidro enorme que acompanha toda a frente da sala, esta terá sido uma das mais relaxantes salas que conheci. Uma vista deslumbrante.

A ocasião chegou-nos através da Distribuidora de Vinhos, detida pelo Grupo Fladgate, para a apresentação dos vinhos da Quinta do Crasto, Herdade do Mouchão e Bodegas Roda (Espanha). Ainda antes de se iniciar a prova, já nos havia sido informado, que também teria lugar uma prova comparativa de Portos Vintage, da Colheita de 2001, do Grupo Fladgate Partnership.


Tomás Roquette, Director de Enologia da Quinta do Crasto


Quinta do Crasto

Por inúmeras ocasiões tive oportunidade de escrever sobre este produtor, que hoje em dia dispensa qualquer tipo de apresentações. Qualquer pessoa, por mais distraída que esteja, conhece ou já ouviu falar desta Quinta, deste Produtor ou dos seus Vinhos. A Quinta do Crasto atingiu em Portugal, e no mundo, um estatuto que a muito poucos está destinado. Em Portugal está, no meu entender, num merecido lugar de topo, apenas acompanhada por um punhado de outros produtores. O segredo? Esse reduz-se às fantásticas vinhas que detêm e ao soberbo trabalho de Viticultura, Enologia e Gestão de toda a Equipa da Quinta do Crasto.



Crasto Branco 2010
Tudo muito fresco, muito equilibrado de aroma, com notas limonadas e vegetais. Se por um lado mantém o perfil aromático das anteriores edições, na boca, vem sendo afinado, ano após ano. Esta edição ganhou mais volume, mais untuosidade, mais tensão na acidez. Um excelente feito, numa vindima difícil. Este branco, perfila-se com um dos melhores, senão o melhor branco sem estágio em barrica. Muitíssimo bem.
Nota 16,5


Crasto 2009
Um aroma maduro e intenso, é panache deste vinho. No entanto não perde o seu equilíbrio nem mostra que sabe ter frescura no seu conjunto. Floral
Na boca tem textura, densidade e sobretudo sabor, num conjunto redondo, com alguns taninos a mostrarem que poderá ser guardado por uns bons pares de anos. No entanto, foi pensado para ser bebido desde já.
Nota 16

Quinta do Crasto Superior 2009
Algo fechado de início. Demorou a mostrar toda a sua profundidade. Decadente no fruto, consegue mostrar um veio de frescura sempre que alcançamos o copo. Muito bem
Boca de excelente concentração, numa toada de finura e firmeza de taninos. Final intenso e longo. Precisa de garrafa.
Nota 17

Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2008
Ganha complexidade cada vez que o provo. Mantém ainda as notas de barricas usuais neste vinho, auxiliadas por notas de grafite, café, Fruto Negro e Giz. Muito sedutor. Equilibrado.
Boca com volume, sumarenta, taninos finos ainda muito presentes. Final longo. Excelente vinho, que mostrará todo o seu esplendor daqui a uma mão cheia de anos.
Nota 17,5

Herdade do Mouchão

Será por ventura o mais interessante produtor do Alentejo. Na sua história, em certas alturas atribulada, contou sempre com vinhos enormes, de grande longevidade. Quem provou vinhos com o 1954, 1963, 1970, 1974 e outros, conseguirá certamente perceber o que pretendo dizer. Numa zona que tem vindo ao longo dos anos a dar mostras da enorme capacidade para a produção de grandes Tintos, os Mouchão serão porventura as suas estrelas mais cintilantes.


John Forsythe, a cara dos vinhos Mouchão


Dom Rafael Branco 2009
Aroma muito Novo Mundo, com com sugestões de Alperce, Relva Cortada, a fazer lembra um Sauvignon.
Boca assertiva, com sabor e alguma sensação de doçura. Ainda assim com alguma frescura e uma boa acidez.
Nota 15,5

Dom Rafael 2009
Aroma de fruto maduro, notas de licor. Intenso mas algo quente.
Boca com sabor e equilíbrio. Final de boa persistência.
Nota 15,5

Ponte da Canas 2008
Aroma com profundidade, sugestões de barrica, bacon, fumo, e fruto negro. Intenso
Rebelde na boca, largo e denso. Final cheio de vida, firme e com taninos ainda muito jovens. Precisa de tempo.
Nota 17

Mouchão 2006
Aí está o estilo Mouchão, já a mostrar alguma borracha queimada, fruto denso e mato seco. Tudo num estilo concentrado e cheio de vigor.
Grande concentração na boca, vigoroso. Taninos finos mas muito empertigados a mostrarem que precisam de garrafa para acalmar. Um conjunto de belo efeito, que por certo melhorará daqui a uns anos.
Nota 17,5


Bodegas Roda (Espanha)

Apesar de relativamente recente, este tem sido um projecto que começou por dar nas vistas mal se instalou na Rioja. A razão poderá parecer simples mas baseia-se sobretudo na filosofia das vinhas velhas e nas castas autóctones.



Corimbo 2008
Perfumado, com fruto silvestre.
Boa frescura de conjunto mas com taninos demasiado evidentes, que prejudicam de certo modo o equilíbrio deste vinho. Uma pena.
Nota 15


Roda 2006
Aroma com alguma complexidade, que oscila entre o fruto maduro, as sugestões de tabaco, ligeiro couro e baunilha.
Melhor na boca, com alguma elegância num conjunto que termina longo e com taninos bem secos.
Nota 16,5

Roda I Reserva 2004
Excelente no aroma. Sem vestígios de evolução, este vinho ainda se mantém primário. Por esta altura a barrica já integrou, ficando penas alguns vestígios da mesma, que dão carácter ao vinho. Equilibrado e com frescura.
Boca assertiva. Fino mas com volume e potência. Taninos muito finos e final bem longo.
Nota 17,5

Cirsion 2007
Aroma muito rico, opulência e profundidade em pessoa. Complexo, cheio de camadas de aromas, que se entregam num vai e vem. Sugestões de ameixas, amoras, menta, eucalipto e notas licoradas.
Boca de excelente envergadura e profundidade. Tudo ainda muito compacto, muito preso. Muito tenso, num final cheio de taninos que seguram-nos ao vinho. Impressiona desde já mas é um exercício inglório perante esta capacidade de evolução em garrafa.
Nota 18,5


Portos Vintage 2001

Para o final estava guardada uma prova de enorme carácter didáctico, ainda para mais quando esta seria conduzida pelo David Guimaraens, que é a pedra Basilar de todos os Vinho do Porto do Grupo.
O ideia foi colocar frente a frente três Vintage da Colheita de 2001, um ano Single Quinta, e tentar perceber as suas diferenças, no conjunto em prova.





Fonseca Quinta do Panascal Vintage 2001
Num momento fantástico de consumo. É o vinho que mais se mostra neste momento, pela jovialidade da fruta, com muitas notas de framboesa, melancia.
A boca apresenta-se com doçura e volume. Tudo num registo de equilíbrio. Esta perfeito para ser consumido desde já, mas irá manter-se assim por mais anos.
Nota 16,5

Taylor's Quinta de Vargellas Vintage 2001
Muito mais austero e reserva do que o anterior. Mostra-se ainda algo tímido.
Na prova de boca, mostrou-se muito bem com muitos taninos envoltos no corpo do vinho. Final muito longo.
Nota 17,5

Fonseca Guimaraens Vintage 2001
Um pequeno jovem que ainda não deixou o seu lado químico.
Boca ainda com o espírito por integrar. Taninos muito presentes ainda. Um Vintage cheio de vida e com muita vida pela frente.
Nota 18


Nota final para o almoço que nos foi servido no restaurante do Hotel Yeatman, que pura e simplesmente deslumbrou. Mas disso falarei mais tarde.
Nesse almoço acabámos por abrir alguns vinhos especiais, nomeadamente a primeira garrafa Double Magnum de Maria Teresa 2005 que foi aberta em Portugal, que estava tão jovem que me deu pena de ter sido aberta. Um Mouchão Tonel 3-4 2005 que já me tinha deliciado no Jantar da revista de Vinhos. Estava em grande. E ainda um dos meus Vintage preferidos, o Fonseca 1985, que apesar de estar muito bom, não se mostrou ao nível do que já tenho bebido em outras ocasiões.

1 comentários:

luis almeida sábado, dezembro 10, 2011 10:02:00 da tarde  

mouchão 1954 espectaculo ainda o ano passado bebi e estava excelente
ainda tenho 4 garrafas guardadas religiosamente

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