domingo, 27 de novembro de 2011

Velhos são os trapos

São inúmeras as vezes que me encontro perante a situação de estar a agarrar numa garrafa de um vinho velho, numa loja, e logo aparecer um individuo a exclamar; Ahhh isso já está vinagre!!!!!!
Se há preconceito que mais me dói, é esse mesmo. Para o português em geral, apenas o Vinho do Porto, graças ao ditado, quanto mais velho melhor, é reconhecido como o único vinho capaz de ser bebido em velho. Nem mesmo o eterno Vinho da Madeira, é reconhecido com essa capacidade e não poucas vezes as pessoas se intrigam como é possível já ter bebido um vinho do Séc. XIX ou mesmo XVIII, ficam atónitas, desconfiando sempre do que lhes digo. Se por um lado nos fortificados ainda ficam desconfiadas, nos vinhos de mesa, com especial relevo nos Vinhos Brancos, a possibilidade de um vinho, digamos que com 10 anos, estar bom é algo que nem sequer colocam em questão. Está vinagre e pronto!!!!!

Pois eu, adoro vinhos velhos. Adoro a complexidade e a plenitude de um vinho que esperou dezenas de anos dentro de uma garrafa, à espera daquela pessoa a quem estava destinado. E quando essa pessoa gosta de vinhos velhos, parece uma electrizante mística que envolve este dueto Vinho/Bebedor.
Há umas semanas agendei com amigos, bons amigos, que gostam tanto de vinhos velhos como eu, uma "limpeza de garrafeira" (não é bem limpeza de garrafeira, mas sim uma desculpa para estar com os amigos e abrir vinhos que sei que irei gostar, aliás, que iremos gostar) dos vinhos velhos que andam cá por casa. A ideia foi de pegar em vinhos de várias décadas, começando pela década de 50 e chegar aos anos 90.
A prova foi emocionante, muito graças aos vinhos que estavam em fantásticas condições, muitos deles em patamares de excelência, estando apenas um prejudicado pela presença de TCA. As vezes pergunto-me se não poderia ter um rasgo de ganância e beber uma destas garrafas sozinho. Poder, podia, mas não era a mesma coisa. Estas tardes assim passadas, aprendendo, dissertando, e sobretudo bebendo belos vinhos velhos, tem muito mais interesse, se for num ambiente de partilha e de amizade.

Como já disse, os vinhos, eram 21, estavam em magníficas condições, na sua maioria e souberam deixar uma grande certeza; Há belíssimos vinhos velhos Portugueses, ou se quiserem, existem garrafas magníficas de vinhos velhos Portugueses.

O alinhamento e respectivas notas que tomei:

Pommery Millesime 1955
Evoluído, com notas de caramelo. Excelente acidez e percepção ténue do gás. Muito bom

Pommery Millesime 1962
Muito menos evoluído, com notas resinosas. Complexo. Excelente frescura e soberba acidez. Fantástico.

Caves são João 1967
Uma garrafa de antologia. Simplesmente perfeito, equilibrado e no auge máximo.

Tinto velho Cartaxo 1966
Vivo, ainda a mostrar fruto ligeiro. Demorou muito pouco no copo até desintegrar-se. Uma pena.

José Rosado Fernandes Tinto velho 1975
Muito bem, no estilo Rosado Fernandes, apesar da volátil alta. Grande concentração e pujança.

Centro de Estudos de Nelas Dão 1975
Espectacular. Foi bebido ao lado do tinto velho e mostrou a antítese deste. Complexidade, elegância no seu expoente máximo. Um dos vinhos da noite, para mim.

José Rosado Fernandes Tinto velho 1980
Pareceu-me com menos volátil que o 75 mas também com menos concentração. Num estilo mais fino, numa prova onde mostrou-se estar no limite.

Cooperativa do Vilarinho do Bairro Garrafeira Bairrada 1980
Soberbo e para mim o vinho da noite. Esta é a segunda garrafa que bebi deste vinho, anteriormente já o tinha sido o vinho da noite entre vinhos como Gruaud Larose 92, Latour Martillac 81, e em ambas foi considerado o melhor. Impressiona pela juventude, pela complexidade, pela elegância. Um vinho magnifico.

Herdade do Mouchão 1985
O estilo não engana ninguém, e apesar de não ser dos melhores exemplares, está lá tudo o que estou á espera. A potência do Alentejo

Quinta do Carmo Garrafeira 1987
Soberbo. Um grande Carmo, cheio de fruto, muito eloquente no aroma. Cheio e vigoroso na boca. Delicioso.

Valdarcos 1985
Pena que o TCA estivesse a esconder o grande vinho que estava por baixo.

Gonçalves Faria Tonel Especial 5 Garrafeira 1990
Como sempre, magistral, delicioso, potente mas elegante, austero mas redondo.

Quinta da Dôna 1991
Um caso serio de um vinho que ainda agora começou a levantar voo. Um vinho que poderá muito bem sobreviver todos os anteriores. Magnifico.

Romeira Garrafeira 1976 (Magnum)
Muito bem no aroma mas algo metálico na boca.

Borgogno Barolo 1993
Ligeiramente turvo, floral, fruto Silvestre. Alguma evolução. Taninos empertigados. Muito bom.

Quinta do Todão Vinho Velho
Um colheita sem indicação de data. Muito complexo no aroma, doçura controlada. Muito fino. Muito bom.

A.J da Silva 1880 (Quinta do Noval)
Novamente Magistral. Complexidade, frescura, volúpia.
Boca com enorme frescura, acidez magistral a pedir copo atrás de copo. Longo, longo, longo. Ligeiro desvio alcoólico. Quase perfeito.

Laurent Perrier Grand Siécle
Evoluído mas com muita complexidade. Enorme acidez. Muito bem. Ao nível do Pommery Millesime 1962.

1º Prémio da Confraria dos Enófilos Alentejo Branco 1991
Grande surpresa num branco cheio de vida, com notas de resinas, notas petroladas. Boca assertiva e nervosa. Excelente.

5 comentários:

ajfneves segunda-feira, novembro 28, 2011 1:16:00 da manhã  

Uma prova digna de registo...
Eu também já sou fã dos vinhos velhos (e digo que já sou, porque ao inicio não estava muito convencido que os velhinhos pudessem proporcionar tanto... prazer... e momentos únicos).

A verdade é que sozinho não chegaria lá. A partilha e os ensinamentos de companheiros mais experientes, contribuiram muito para que hoje consiga gostar e entender os vinhos velhos.

Termino a dizer que, mesmo não conhecendo os outros vinhos, essa prova valia apenas pelo Gonçalves Faria tonel 5 1990...

Alguma ideia onde comprar uma garrafinha dessas? Já corri tudo e nem sinal desse néctar.

Cumprimentos
ajfneves

NOG domingo, dezembro 11, 2011 1:55:00 da manhã  

Caro João,

Que prova!

Ab.,

Nuno

Anónimo domingo, dezembro 25, 2011 4:41:00 da tarde  

Ofereceram-me hoje um vinho tinto Dão Terras Altas, José Maria da Fonseca, de 1964. Não o abri porque achei que não ia prestar... Depois de ler este artigo acho que o vou abrir no ano novo. Há algum cuidado especial a ter na sua abertura?

Unknown quarta-feira, abril 06, 2016 12:01:00 da tarde  

Tenho vários vinhos velhos para venda bom preço. 914186197

Unknown quarta-feira, abril 06, 2016 12:02:00 da tarde  

Tenho vários vinhos velhos para venda bom preço. 914186197

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